sábado, 12 de junho de 2010

Por uma educação que transborde afetividade




“(....) quanto mais insistirem em colocar máscaras nas suas identidades e quanto mais manifestações de que para o surdo é importante falar para serem aceitos na sociedade, mais eles ficam nas próprias sombras, com medos, angústias e ansiedade. As opressões das práticas ouvintistas são comuns na história passada e presente para o povo surdo”. (STROBEL, 2007, apud QUADROS & PERLIN, 2007, p.27).

            O contexto educacional de hoje muitas vezes é semelhante, sem generalizar, ao processo histórico vivido pelos surdos. Eles eram considerados historicamente como pessoas incompletas, doentes, alienadas, perigosas, inquietas e consequentemente eram afastadas da sociedade, como uma lepra.
            Sua identidade não era preservada, ao contrário, pois no primeiro momento a língua de sinais foi rejeitada, supervalorizando a oralidade como “essencial”. Até mesmo a primeira escola para surdos, comicamente falando não media esforços para o ensino da fala.
            Partindo destes princípios podemos estabelecer alguns indicadores relevantes em relação ao fazer pedagógico das práticas utilizadas em sala de aula nos dias de hoje.
            O ser humano tem uma tendência em isolar-se diante de algumas dificuldades que encontra, principalmente se seus lutos não foram bem resolvidos e sua identidade permanecer confusa ou alterada.
            O que mais se percebe é que o meio onde se vive, conforme explica Wallon pode auxiliar na afetividade dos sujeitos, desenvolvendo assim sua auto-afirmação, seu auto-conhecimento e autonomia na construção de sua identidade.
            Aparentemente “as comunidades surdas” buscaram através do isolamento uma forma de resgate de sua identidade, permitindo que suas necessidades fossem então estabelecidas de forma coerente e ajustadas para o crescimento pessoal e coletivo.
            Dentro de uma prática pedagógica na relação professora-aluno é importante “desmistificar”, permitir que caiam as máscaras retratadas através de estereótipos que visam manter aceso o pensamento de “toda criança surda é agressiva”, ou tem “problemas familiares”, ou ainda, ela tem baixa-estima.
            O filme “O milagre de Anna Sullivan”, revela uma professora jovem, sem prática alguma, porém muito bem resolvida em suas perdas, seus lutos, e consequentemente realizava suas práticas com perfeita autonomia.
            Utilizou-se do tato, percepção, através do toque às vezes suave, às vezes brusco, para manifestar-se e despertar a menina Hellen Keller.
            O perfil desta educadora mantinha aceso aspectos de coragem, sabedoria, audácia, perseverança e persistência pela causa, no caso a criança, sujeito de toda sua dedicação.
            Em alguns momentos suas práticas se assemelhavam a um grande laboratório onde para disciplinar Hellen, a professora utilizava-se de recompensas quando ela realizava o que era solicitado. É quase como pensar em ação-reação, nas pesquisas realizadas com cobaias.
            Anna Sullivan sabia disto, tanto que se permitia ir além, buscar alternativas para que a menina, sujeito de sua investigação, começasse a compreender o mundo a que pertencia.
            O documentário por sua vez mostra dois mundos diferentes, um onde à família não aceita a identidade da filha e consequentemente não permite que a mesma se “rotule” como surda, mesmo tendo surdez, e prefere aderir ao implante.
O outro caso mostra uma família “resolvida no mundo dos surdos”, porém, embora demonstre conviver com os “ouvintes”, não se acha pertencente a este mundo.
            Antes de voltarmos a falar em práticas pedagógicas, falemos de fracasso escolar, um fantasma que oprime e ao mesmo tempo sinaliza para um “tempo de mudanças na área educacional”. No que diz respeito aos alunos surdos um dos tópicos que precisa ser melhorado para alcançar práticas mais eficazes é o olhar sobre o contexto familiar. A super proteção dos pais, a falta de estímulo, a falta de conhecimento sobre a Língua de Sinais, a não aceitação da surdez, a pobreza; são tópicos importantes que remetem ao impedimento do processo ensino-aprendizagem.
            Utilizando-se destes meios, um professor bem resolvido em conjunto com uma gestão atuante poderá revelar em suas práticas um fazer pedagógico que contemple estas necessidades tendo como perspectiva básica este pensamento:
(....) “que os mecanismos de mediação no processo de integração das crianças surdas se revelam no processo inverso, ou seja, a aceitação da diferença – não da deficiência, mas como mais um exemplo da diversidade humana, para a construção de um verdadeiro processo educativo”. (LOPES, MAURA CORCINE).



CONCLUSÃO:

           
            Falando de diversidade humana, como gostaria de poder concluir, minha opinião é a de que os espaços de convivência são muitos e por este motivo embora pareça “utopia”, me é mais agradável pensar em atitudes de integração, exatamente como ele é sinalizado.
            Os gestos, atitudes, discordâncias, não são pensamentos irrelevantes, pois ao contrário nos fazem crescer e amadurecer em atitudes concretas que possam transformar-se em auxílio na educação.
            Pensar em minhas práticas para os surdos, é como pensa-las para cegos, altistas, hiperativos, dispersos, desligados, ou simplesmente sujeitos acomodados, ou seja para toda esta diversidade cultural são necessários novos fazeres pedagógicos.
            Os indivíduos são os mesmos, contemplados ou não através de meu interesse pessoal no comprometimento de ensino aprendizagem professora-aluno.
             O ser humano contemplado em um todo só é atingido totalmente quando nosso olhar se alarga permitindo que também e primeiramente em nós a zona de desenvolvimento proximal avance através de novos conceitos, novas metodologias e uma grande pitada de afetividade.

  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SKLIAR, Carlos. Os Estudos Surdos em Educação: problematizando a normalidade. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre. Mediação, 1998.

SKLIAR, Carlos. Cadernos de Autoria: Abordagens sócio antropológicas em Educação especial.



CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA – IPA
CURSO: PEDAGOGIA
DISCIPLINA: LIBRAS – LÍNGUA DE SINAIS
PROFº ANDRÉ
ALUNA: DIONE GAUTO
TURMA: PDM31

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